
Informação posta à prova
A fim de pôr à prova algumas das informações obtidas durante as leituras feitas para criar esse museu virtual, nos propusemos a reproduzir uma arma da época para poder realizar testes com ela.
Em linhas gerais, é preciso dizer que o artefato foi produzido para testar principalmente questões dinâmicas e de distribuição da massa na estrutura da espada, além de propiciar que se tirem medidas e que se avalie o quão confortável é o manuseio do objeto. O fato de que a reprodução possui valor histórico nulo também significa que foi possível a realização de diversos testes que não poderiam ser feitos com um item original, que poderia ser danificado ao longo dos experimentos.
Escolhemos a espada abaixo para a reprodução por um motivo em especial: a quantidade de informações sobre este que a fonte nos dispunha, permitindo assim uma remontagem mais próxima do que seria o real. No entanto, dados de outros modelos foram intercruzados para que fosse possível adotar a técnica de produção mais simples e menos exaustiva.
Nunca é demais enfatizar que essa iniciativa experimental tem como maior obstáculo o fato de que lidamos com recursos e meios limitados para trabalhar a peça, que está muito longe de ser uma reprodução perfeita - é antes uma reprodução "responsável".
A Zweihänder que nos serviu como referência é uma peça genuína e muito bem conservada do século XVI e pertence ao Museu Nacional de História Militar da Hungria, cujo curador fez cuidadosas medidas a pedido do site TheArma que as publicou Neste Artigo. A peça possui peso acima da média, e "não há outra espada não-decorativa mais pesada" dentro do arquivo do museu.
As medidas são:
Comprimento: 1808 mm
Largura da lâmina: 46 mm
Grossura da lâmina: 7,6 mm
Comprimento da lâmina: 936 mm
Diâmetro da guarda: 502 mm
Comprimento do cabo: 306 mm
Peso do item: 3.650g

Testar para confirmar
Esta é a Zweihänder produzida por nós. É completamente feita em aço 1045 - com teor de carbono abaixo do ideal - em grande parte com técnicas aplicáveis no século XVI, com ferramentas manuais. O cabo é feito de madeira de pinho, rebitado com bastões de cedro ao núcleo com a parte inferior revestida com arame e a parte superior recoberta com couro preto. O "nó" divisor do cabo é feito de cedro também, modelado à mão por desbaste. O pomo da espada é feito de osso bovino, seu interior é preenchido com chumbo para atuar como um contrapeso e ao final um parafuso foi posicionado sobre um tampo para garantir a fixação do pomo ao cabo, este parafuso e o arame anteriormente citado sendo os únicos materiais industriais utilizados em todo o processo, com a exceção do próprio aço.
O ricasso da espada (o "cabo secundário" acima da guarda) foi estofado com estopa mergulhada em laca, depois coberto com um algodão cru grosso e por fim revestido em couro bege. Os ganchos de aparar foram feitos com o próprio aço da barra original, que após ser cortado de forma estratégica foi alavancado contra o centro da espada e assim, se curvando na forma de Flor de Lis.
A lâmina tem um perfil largo e seu centro foi desbastado com um perfil "broad Füller", mais demorado mas mais simples de ser feito com ferramentas manuais. Esse abaulamento é feito historicamente com diversos objetivos, um deles predominou nesse caso: a diminuição do peso.
Especificações:
Comprimento total: 1700 mm
Comprimento do cabo: 820 mm
Comprimento da lâmina: 860 mm
Largura da lâmina: 52 mm
Diâmetro da guarda: 360 mm
Diâmetro dos ganchos de aparar: 111 mm
Expessura da lâmina: 4,7 mm
Peso: 2.254 g

Fazer uma espada com tamanhas proporções se provou uma tarefa mais exaustiva do que complicada, devido à facilidade da forma como hoje o aço já vem usinado. Vídeos online e conhecimentos de cutelaria já familiares ajudaram no desenvolvimento do processo.

Detalhe dos rebites do cabo recém-posicionados

Note como a lateral da lâmina não possui um perfil plano, mas côncavo, bastante aberto
A principal dificuldade para um amador que tenta reproduzir uma peça desse tipo é manter a uniformidade das estruturas ao longo de toda a peça, pois é muito fácil perder-se e cometer erros crassos quanto à profundidade do perfil, ou produzir uma lâmina torta ao longo do comprimento. Irregularidades no cabo também são um obstáculo difícil de transpor.
Uma vez concluída a espada, realizamos com ela alguns testes de movimentação.
Apesar das dimensões e da massa considerável, a Zweihänder se comporta bem e tem uma dinâmica surpreendentemente ágil, ainda mais se o usuário souber se adaptar ao modo como o item se move. Essa avaliação quanto ao modo de se mover - parar ou seguir, etc - é bastante complicada para se fazer no início, mas conforme nos acostumamos com a dinâmica da espada seu uso fica mais natural.
Com espaço, é possível aplicar técnicas fluidas com bastante facilidade, e é possível notar como um ataque dessa arma causaria estragos muito além do que o faria uma espada longa comum.
Quanto à fluidez dos movimentos, o único real perigo são os giros baixos, que correm o risco de fazer a arma colidir contra o chão e travar o ataque. Também é importante que o usuário esteja atento para a posição da guarda da espada, uma vez que ela pode causar sério estrago se colidir contra o seu corpo e, em especial, a sua cabeça.
No mais, é certo afirmar que ter um item de dimensões históricas plausíveis nas mãos é uma experiência muito elucidativa, que nos permitiu compreender a forma do seu uso muito além de um relato impessoal.
Até certo ponto pode-se dizer que o experimentar parece nos confirmar da procedência real do item; nos provar que não é algo fantasioso mas sim uma produção humana concreta e racional.
Buscaremos fazer outras reproduções e outros experimentos, com contextos mais complexos e situações mais verossímeis do que apenas o exercício de movimentação, mas mesmo com essa experiência limitada já é possível afirmar que a vivência em torno de um processo pode ser didática em níveis bem mais profundos do que a exposição por terceiros.

Concluída, vista como pelo usuário.