
Muito além da força
Parece lógico: Em um combate, a força é um fator determinante.
A leitura desse fator precisa ser feita em partes. Ainda que a força do combatente tenha papel fundamental em seu desempenho, ela vem acompanhada de outros fatores que se somam para definir um guerreiro como excepcional ou medíocre.
É preciso também que se perceba que o treinamento para maximizar a eficiência do espadachim é exaustivo e longo, logo porque diversos dos movimentos e posições são contrários ao que o reflexo humano produziria naturalmente; não havendo tempo para se pensar em uma ação durante uma luta, é preciso que se treine o suficiente para que seja criada memória muscular, processo que leva ao menos diversos meses, geralmente alguns anos.
Além disso, o repertório de movimentos e proposições é incrivelmente vasto, composto por uma dinâmica que inclui o corpo todo de forma sincrônica, exigindo uma preparação extremamente vigorosa do lutador.
Abaixo, alguns poucos exemplos que mostram como a técnica do espadachim precisa ser muito mais simples do que apenas "bater no inimigo com a parte afiada" da arma.
Desde já agradecemos a toda a comunidade da Wiktenauer pelo trabalho de reunir e transcrever os manuais de combate a que tiveram acesso e permitir que esse material seja disseminado.
As técnicas aqui listadas foram escolhidas exatamente pela estranheza que podem causar para quem as vê pela primeira vez, e mostram que a força bruta está longe de ser um fator explorado vastamente no combate, que privilegia muito mais a precisão e a destreza.
Aos exemplos!

A postura recomendada em um combate com armaduras é segurar a espada acima da cabeça, com uma das mãos na lâmina. Essa técnica permite bloquear ataques com mais eficácia e controlar a ponta da arma com muito mais precisão, e é a partir dessa posição que são desenvolvidos diversos tipos de ataques.
Na figura é possível notar que os guerreiros tocam as lâminas, ainda que não estejam efetivamente um atacando o outro; isso permite sentir em qual sentido o inimigo está aplicando mais ou menos pressão em sua arma e ajuda a prever a direção dos movimentos, ao custo de que o adversário também poderá usar esse recurso.
Aqui o autor aponta para a ideia básica de buscar frestas na armadura do inimigo, sendo um ponto fraco incorrigível a abertura para os olhos.
Caso o inimigo tente algum movimento do tipo, o manual recomenda um preciso movimento que posicione a espada entre o braço de apoio e a lâmina do adversário, seguido de um movimento firme para cima que, além de desviar o ataque pode também desarmar o inimigo.
É válido apontar para o quão artificial é esse movimento, uma vez que a reação natural seria tentar cobrir o rosto, a linha de ação mais eficiente consiste na verdade em empurrar o golpe para longe, afastando os braços do rosto com vigor.


A figura recomenda que se faça um ataque composto, com um "falso golpe" na região da cintura do inimigo, e quando este bloquear o ataque, usa-se a guarda da espada para golpear a abertura ocular do elmo inimigo.
O manual cita que, dependendo da força que o inimigo aplica ao aparar o primeiro golpe ele pode acabar lhe ajudando a alavancar o verdadeiro ataque.
Já foi dito que a primeira regra do combate com espadas é "a parte pontuda vai no outro homem"; pois é uma regra falsa.
A concentração da massa de uma espada na região da guarda significa que, caso alguém a segure ao contrário, pode desenvolver um ataque muito mais potente, ao custo de ser menos controlável. Aplicar um golpe com a guarda ou o pomo da espada para fazer uso dessa característica constitui uma técnica específica chamada "mordhau" - "golpe da morte" - amplamente usada contra inimigos de armadura.
Provavelmente o Mordhau é o exemplo máximo de que o combate com espadas não corresponde ao que o senso comum poderia sugerir.

Todas estas técnicas pertencem ao compilado "Gladiatoria" e demonstram técnicas primariamente desenvolvidas para o uso com a Espada Longa; no entanto a maioria delas admite variações para outros tipos de espadas. No link, o grupo completo em alemão e inglês.
Outros manuais trazem técnicas para Kriegsmesser, alguns autores também dedicam obras a tratar sobre como interpolar técnicas variadas.